Céu e Inferno

De todas as armadilhas do ego, talvez a mais difícil de controlar seja o julgamento. Julgar e se irritar com pessoas próximas, com quem convivemos diariamente é de fato muito fácil e fizemos isso todos os dias, sem perceber. Quando começamos a nos tornar conscientes de nosso Eu Interior e buscar a paz de espírito, percebemos rapidamente quando caímos numa das armadilhas do ego, mas o julgamento está tão arraigado em nossa personalidade que é quase natural.

Mas não é. Nem deve ser. Precisamos nos livrar disso, porque perder o controle e se irritar com quem amamos é mais doloroso do que pensamos e cria um lixo emocional chamado culpa, que é um dos mais difíceis de se livrar. Se é impossível não se irritar com alguém, então o afastamento é inevitável, mas antes de tomar essa atitude drástica há de se procurar outras alternativas, como tentar entender porque determinada pessoa é do jeito que é. O que essa pessoa passou na vida para ser como é? O que motivou sua(s) atitude(s) repetitiva(s) e irritante(s)?

Sim, é difícil pensar assim no calor da emoção, e tentar fazer a pessoa perceber que é irritante é pior ainda. Uma conversa franca, num momento de calmaria talvez comece a ajudar; o mais correto, segundo ensinamentos orientais é resolver a questão dentro de nós mesmo, tentar entender por que a pessoa nos irrita com seu defeito, será que talvez não seja nossa culpa, ou ela é apenas um espelho do que somos? Será que essa pessoa não está fazendo o papel de nossa “voz da consciência”? Ou apenas gostaríamos que a pessoa fosse diferente, mas chegamos a conclusão que não vai ser e temos medo de admitir?

Seja o que for, ficar dando murro em ponta de faca nunca dá certo, a gente se machuca e não resolve nada. É difícil dar o braço a torcer, mas ficar em silêncio e se afastar no momento da irritação ainda é a melhor saída. Enfiar a cabeça numa panela e gritar, contar até 10, ou até 1000 também funciona, às vezes… ou simplesmente dizer para a pessoa: Basta! Cansei! Desisto! Você conseguiu acabar com minha paz de espírito! A pessoa vai se achar vencedora num primeiro momento, mas com certeza vai ficar pensando, lá no fundo: Acho que exagerei. Da próxima vez, quem sabe, essa pessoa pense duas vezes antes de ficar irritando alguém. Ou não, nunca se sabe!

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Segue uma estória que li no blog da página CompraZen, que me inspirou (num desses momentos de precisar contar até mil) a escrever este post:

Conta uma história que um samurai estava repousando debaixo de uma árvore quando passou um monge budista. Ele não acreditava em nenhuma tradição espiritual. Era um homem duro e seco. Quantas vezes desembainhara sua espada? Quantos corpos havia mutilado? Quantos por sua lâmina haviam morrido? Já perdera a conta. Ao ver o monge, chamou-o e o interpelou? “Essa história de céu e inferno que vocês, budistas, contam é pura mentira. Onde fica esse céu, essa terra pura? E onde está o inferno?”

O monge o escutou atentamente e, em seguida, respondeu: “Você é um samurai muito burro e lento. Sua espada não serve para coisa alguma”. Furioso, o samurai se levantou e começou a desembainhar a espada: “Como ousa falar assim comigo?”. O monge disse, sorrindo: “Isso é o inferno”. O samurai parou e, em vez de tirar a espada da bainha, colocou-a mais para dentro. “Isso é o céu”, disse o monge. E continuou sua caminhada.

Blessed be! Namastê!

Imagem: Reprodução