Sim, eu tenho um lugar especial que existiu fisicamente um dia, mas hoje não existe mais. Pelo menos não como o conheci. É um lugar da minha infância, que já não frequento mais a pelo menos uns quinze anos (ou mais). Mas esse lugar, a muito tempo, insistentemente, me aparece em sonhos. Em vários sonhos, eu morava lá. Sempre achei estranho, mas não parava para refletir sobre isso. Agora, com meu trabalho sobre sonhos e meditação, resolvi buscar explicação. Mas nem tudo tem explicação, ou pelo menos demora a surgir respostas. Você deve pensar, “ah Tai, é saudade, só isso”… sim, certamente sinto saudade, muita. Mas sinto saudade de muitos outros lugares da minha infância e que não ficam aparecendo pra mim em sonho repetitivo. Então resolvi fazer algo e compartilhar, porque tenho certeza que mais alguém vai querer experimentar.
Existem lugares, pessoas, animais com os quais criamos uma conexão muito forte, muitas vezes sem saber porquê. Sabemos que é algo energético e/ou espiritual… talvez não tenhamos essa consciência, mas sentimos que é mais do que gostar/amar. E mesmo não os vendo mais, ainda sentimos a ligação por muito tempo. Às vezes, por uma vida toda. Por que isso acontece? As explicações são muitas, então cabe a cada um buscar em si a resposta mais plausível. Foi o que resolvi fazer, buscar uma resposta numa meditação com visualização, indo a esse lugar, o mais presente que pudesse ser/parecer. Mesmo que não encontrasse resposta nenhuma (e não encontrei, até o momento em que escrevi este post), pelo menos iria reviver o lugar. E isso, posso garantir agora: revivi aquele lugar de uma maneira muito intensa, que me fizeram ir as lágrimas até, não de tristeza, mas de emoção, como se estivesse lá mesmo, no lugar da minha infância, com todo o seu mistério, com seu cheiro, com suas cores, com suas texturas. Posso garantir que entrei em uma máquina do tempo naquela noite (quinta-feira, 14 de janeiro desse ano).
Para quem está curioso(a), o lugar era a casa de meus avós maternos, ambos já falecidos ainda na década de 90. Meu avô foi segurança da empresa de abastecimento de água (SAMAE) da cidade, no local onde existe a Estação de Tratamento de Água, chamado de Parque da Imprensa (não sei porque é esse o nome). Ele é um parque muito grande, com duas “piscinas” de água gigantes, muitas araucárias e várias árvores frutíferas. A empresa deu uma casa para meu avô nesse terreno, que foi um pouco afastada do prédio da empresa e das piscinas, mas depois foi transferida para bem mais perto, embaixo das araucárias. Meu avô se aposentou e continuou com a casa, considerada um bem vitalício. Na época, tudo era a céu aberto, não tinha sequer segurança ao redor das piscinas!!! Aliás, nada tinha muita segurança lá, eu e meus primos podemos garantir isso (risos). No prédio onde tinha eletricidade, que ficava fechado, sim, tinham grades e uma placa com aquela caveira na frente, que nos deixava fascinados! Mas o restante, estava ali, para nosso deleite (era isso o que nós, a parte infantil da família, pensava). Ao lado da casa tinha um campinho, sem árvores, de grama baixinha, muito comprido e largo, e nós o apelidamos de campinho, pois se jogava futebol lá, óbvio. Foram incluídos também o vôlei, o pega-pega, o caçador, estátua e todas as atividades que necessitavam de espaço ao ar livre. Nossa família é grande, sempre com muitas crianças, daquelas famílias que se reúnem todos os fins de semana na casa de alguém. Naquela época era na casa de meus avós. Todo o fim de semana era praticamente a mesma coisa. Íamos para lá na sexta-feira a noite, pois meus pais, avô e tios jogam canastra (tradição de anos). Sábado fazíamos alguma atividade no centro, como pagar contas, fazer compras, algum evento a noite… no domingo, almoço na casa da vó, e a tarde toda para brincar lá. Férias escolares ou feriados, quando não se viajava, passava lá. Eu e meus primos. Meu avô era um cara muito, muito bravo e controlador, mas tinha o costume de dormir a tarde, e também jogar carta em algum bar, então sempre que ele não estava por perto, ah… o lugar era nosso. Minha avó era uma santa, não reclamava de absolutamente nada, deixava a gente livre!
Na minha meditação vi o lugar do jeitinho que era: o portão de entrada, laranja e enferrujado, fechado por cadeado, rodeado por cercas de ambos os lados; ao passar pelo portão, as escadas de pedra com cinco degraus; olhando à esquerda, uma árvore com espinhos no tronco (não sei o nome dessa árvore, veja imagem) e um barranco alto que dava para o campinho; na frente e do lado direito muitos pinheiros (araucárias); uma leve descida para frente, com terra e grama, chegava-se a uma parte de terra batida, que estava sempre úmida, onde ficava a casa, velha, de madeira, com porta de madeira e trinco de ferro; a área da frente de alvenaria, com chão de pedra, toda fechada, onde ficava uma geladeira antiga no lado esquerdo, uma pia no centro e o banheiro no lado direito (de quem entra); entre a pia e a porta do banheiro, uma porta que entrava para a casa, na cozinha; lado esquerdo pia, fogão a gás, uma janela sobre o fogão que dava para ver as piscinas ao longe; no lado esquerdo um fogão a lenha, que estava sempre acesso, com uma chaleira em cima (mesmo no verão) e a mesa de refeições; na frente a porta de madeira que dava para o quarto dos meus avós, que arrastava no chão quando abria, deixando aquela marca eterna no assoalho e uma entrada com cortina para o quarto das minhas tias; foi construída uma parte a mais na casa (o famoso puxadinho), no lado esquerdo de quem entra, onde ficou a sala e o quarto de meu tio, o mais novo da família; estante com TV, vários enfeites e um rádio quadrado, do meu avô (tipo esse, só que era laranja), que ficava com ele encostado no ouvido sempre que estava passando futebol ou a “Voz do Brasil”, mesmo quando a TV estava ligada; aliás ele fazia uma coisa muito engraçada durante os jogos de futebol, assistia pela TV, com ela no mudo, e escutava o mesmo jogo no rádio, porque gostava mais da narração do rádio. Achava isso hilário! Atrás da casa, no porão, ficavam o tanque e um monte tralhas; o porão era de terra, sempre úmida como a da frente, muito escuro e cheio de aranhas e outros bichos; o varal pelo lado de fora; uma descida muito grande e uma rua de cascalho separava a casa do prédio da SAMAE; perto desse prédio tinha uma escada e uma jardim com um chafariz, que foi desativado no início dos anos 90, mas a estrutura continuou lá; atrás do prédio tinha uma estrutura com uma cano gigante, onde eu e meus primos caminhávamos sobre, nos momentos em que conseguíamos escapar de vista; ao lado do prédio, as piscinas, abertas, sem cercas ou portões, ou qualquer coisa que impedisse a entrada; apenas a recomendação “Se vocês foram lá, vão apanhar”. Apanhamos várias vezes, mas nunca caímos nas piscinas, até porque se tivéssemos caído, não ficaríamos vivos para apanhar! Na frente das piscinas, um terreno grande, com árvores e gramado, ia dar em outro terreno, com árvores que tinham folhas compridas (Salgueiro Chorão, igual essa), que dava para se balançar nelas, como o Tarzan; nesse local também tinham umas “ocas” (assim chamávamos), na verdade eram pilhas de pasto seco que o pessoal da limpeza do parque juntava e empilhava; ficava igual ocas indígenas; mais adiante um prédio redondo, com o tal portão e placa com caveira na frente, a antiga casa dos meus avós, completamente abandonada, que para nós era mal-assombrada, claro, e… nosso maior tesouro!!!! Só de lembrar, penso nas aventuras que passamos ali!!! Um depósito de canos inutilizados, de concreto, gigantes, empilhados… um monte de canos, com rachaduras, alguns quebrados, formavam um labirinto; era um perigo! E nós, crianças, amávamos! Perdi a conta de quantos castigos sofremos por causa desse lugar (risos e lágrimas). Toda vez que os adultos se distraiam, e com a desculpa de ir pegar amora e figo, nas árvores que tinham nesses terrenos, ou de ir se embalar nas árvores do Tarzan, fugíamos rapidinho para o lugar proibido. Imagina você, passar pelas ocas, pelas árvores do Tarza, pela placa com caveira escrito “Perigo”, pela casa mal-assombrada e chegar na pilha de canos de concreto gigantes, abandonados, cheios de teias de aranha… Quantos momentos!!!
Pois, revivi tudo isso, com a idade que estou agora (36), com o corpo que tenho agora, em Meditação. O lugar ainda existe, ainda é o centro de tratamento da água, mas a casa não mais; agora é só empresa, e o lugar está todo cercado e diferente; inclusive, em 2014, muitas árvores foram cortadas, deixando a comunidade indignada, mas a prefeitura emitiu uma nota/desculpa, justificando o corte; quase não passo mais lá na frente, porque me dói o coração ver aquele lugar tão diferente. Catar pinhão para assar no fogão a lenha; juntar grinfas para empilhar e fazer sapecada de pinhão; brincar no campinho; subir nas árvores, imaginando que eram naves; comer amora, figo, goiaba-do-mato e outras frutinhas; se balançar na árvore do Tarzan; caminhar e se esconder entre os canos de concreto; caminhar no meio das duas piscinas (essa parte só com adultos), para tirar foto; se esconder dentro do banheiro nos dias de temporal, imaginando os pinheiros caindo sobre a casa (até hoje tenho pesadelos com esses dias kkkk); abraçar os pinheiros e sentir o cheiro e a textura da casca do tronco; brincar de índio ao redor daqueles montes de pasto seco, se achando uma curandeira poderosa! Pois é, é só saudade, mas QUE SAUDADE!!!
Esse é meu lugar especial, e se quiserem visitar os seus, em meditação, segue um guia rápido de como eu fiz (me contem nos comentários sobre seus lugares especiais, se fizeram a meditação, como foi…):
- Senta ou deita confortavelmente (de preferência, deitado)
- Fecha os olhos e respira profundamente, mas sem forçar… presta atenção na tua respiração… inspira enchendo a barriga de ar, segura alguns segundos e expira… repete e vai sentindo o corpo relaxando e relaxando a cada respiração completa
- Relaxa cada parte do seu corpo, começando pelos pés… pernas… quadril… abdômen… tórax… braços… mãos… pescoço… face… coluna… sinta o corpo pesado na cadeira ou sobre onde estiver deitado
- Relaxa ainda mais… perceba se a menor parte do seu corpo está relaxada: dedos, olhos, ombros, língua…
- Agora comece a visualizar uma luz, em sua frente, que está aumentando… aumentando… até ficar tudo iluminado a sua frente… você caminha tranquilamente nesse local iluminado até ver uma porta fechada…
- Abra essa porta… e lá está o lugar que você quer ir… vá e não veja mais a porta, nem a luz… veja o lugar… o seu lugar especial… nos mínimos detalhes… você está nesse lugar… caminhe por ele calmamente, vendo e sentindo tudo que está ali…
- Caminhe e fique nesse lugar o tempo que quiser
- Depois que tiver explorado todo o lugar, e vivenciado ele, guarde-o em seu coração… sinta-se feliz… e comece a voltar… ele vai sumindo levemente… como uma névoa… se quiser pode visualizar a porta por onde entrou e voltar por ela… comece a perceber os sons atuais, do lugar em que estás (quarto, sala, casa)… ainda de olhos fechados, sinta as partes do corpo, as mesmas que sentiu relaxarem… sinta sua respiração, seu coração batendo… comece a mexer os dedos das mãos… as mãos… os pés… as pernas… vire a cabeça levemente de um lado para o outro… abra os olhos devagar… mexa seu corpo devagar… levante bem devagar… tome um copo de água… mesmo que esteja fazendo na cama, antes de dormir, faça isso de se mexer e tomar água, e só depois durma.
- Mas tudo bem, se você dormiu durante a meditação, não tem problema, isso é super normal.
Vou tentar fazer um áudio dessa meditação, para guiar (dou aula de meditação guiada, presencial, e todos adoram) e postar no youtube ou soundcloud e quem tiver interesse me manda um e-mail solicitando que envio: tai.olisantos@gmail.com.
Espero que tenham gostado dessa viagem ao lugar especial.
Blessed be! Namastê!
Algumas fotos do lugar… descobri que tenho poucas fotos de lá,infelizmente, pelo menos aqui em casa, vou procurar na casa das tias, vê se encontro outras; as fotos são aquelas de família, bem engraçadas, então tudo bem, risos estão liberados 😀